Dona Lurdes Sequeira, em 2008, no lado direito da fotografia.

Dona Lurdes Sequeira, em 2008, no lado direito da fotografia.

Símbolo Internacional das Sociedades Vicentinas

Símbolo Internacional das Sociedades Vicentinas

S. Vicente de Paulo
S. Vicente de Paulo
Beato Frederico Ozanan
Beato Frederico Ozanan

A Conferência Feminina de S. Vicente de Paulo em Alcochete e a greve de 1957

A Dona Lurdes  Sequeira falou connosco em 2008 sobre o papel da igreja  durante a greve de 1957. Este foi o testemunho vivo que aqui deixamos registado.

Em 1957, a Conferência Feminina de S. Vicente de Paulo era constituída por Lurdes Santana, Maria Amélia, Benedita Quintela, Manuela Espiga, Isabel Cruz, Estefânia Figueiredo, Maria José Grilo, Manuela Costa, Odete Rodrigues, Maria de Lurdes Leite, Maria Emília Nunes, Maria José Nunes, entre outras. Reuniam-se todas as semanas para auxiliar os doentes e os mais carenciados. Para angariar dinheiro, organizavam-se peditórios junto dos agricultores da Barroca, de Rilvas e de Monte Laranjo, realizavam-se festas, cortejos e espectáculos de teatro. Nos meses difíceis da greve, a Conferência Feminina de S. Vicente de Paulo em Alcochete, teve um papel crucial no apoio dado às famílias afectadas pela greve. Lurdes Sequeira, agora com 63 anos, que mais tarde pertenceu à Conferência, e irmã de Manuela Espiga, lembra-se muito bem do papel que os vicentinos tiveram em Alcochete: «Era a minha mãe, que era a cozinheira da cantina escolar, e a minha irmã que iam por esses caminhos fora, à noite, dar comida aos salineiros fugidos». Não poupa elogios a todos aqueles que, sendo membros da Conferência de S. Vicente de Paulo e sabendo das dificuldades dos salineiros fugidos e das suas famílias, abriram a cantina escolar, fechada nessa altura devido às férias escolares, para fazerem as refeições. «A minha mãe e a minha irmã levavam comida em sacos, escondidos no xaile, e deixavam a comida no local que se chamava o Sítio das Baterias, onde hoje está o edifício da Fábrica do Alumínio». Lurdes Sequeira lembra-se que a sua mãe, sem pensar nos perigos que podiam daí advir, esperava pela noite para deixar os sacos de comida junto a muros e valados para os salineiros fugidos da P.I.D.E irem mais tarde buscá-los.

Lurdes Sequeira lembra-se, também, da televisão comprada, em 1958 pelo Padre Ferreira, um ano após a greve. «Só havia duas televisões em Alcochete, uma era do Café Domingos Pina, que ficava ali junto ao Pelourinho e a outra pertencia à Igreja Matriz e tinha sido comprada pelo Padre Ferreira em 1958, com o objectivo de ajudar os mais carenciados». Com doze anos na altura, lembra-se muito bem do convívio na esplanada, que se fazia pela Festa de S. João, onde era colocada a televisão e eram vendidos petiscos preparados pela Conferência Feminina de S. Vicente de Paulo de Alcochete, cujo dinheiro revertia para os mais necessitados.

A origem das Conferências de S. Vicente de Paulo

A Conferência de S. Vicente de Paulo foi fundada em Paris, França, em 1833, por António Frederico Ozanan com mais seis companheiros que, seguindo o exemplo de São Vicente de Paulo, pretenderam ajudar o próximo mediante o trabalho coordenado dos seus membros. Este trabalho, que assentava nas premissas Justiça e Caridade, depressa se internacionalizou, e hoje inclui 138 países e cerca de 1 milhão de leigos vicentinos. Em Portugal, os 13 mil vicentinos e vicentinas estão agrupados em mais de 1000 Conferências, um pouco por todo o país, seguindo e aplicando os ensinamentos do apóstolo da caridade, António Frederico Ozanan. Em Alcochete, este trabalho, segundo Manuela Espiga, parece ter-se iniciado no tempo do Padre Crispim dos Santos, nos anos 40, e manteve a sua actividade até há pouco tempo. Hoje, a Conferência Feminina de Alcochete já não se reúne, tendo sido substituída por outras instituições da Igreja que têm o mesmo objectivo – ajudar o próximo.

Carlos Soares para o Jornal de Alcochete em 2008

Nota-Quando esta entrevista foi realizada ainda não tinha sido aprovado o novo Acordo Ortográfico

Comentários mais recentes

01.09 | 14:24

Está foi segunda entrevista feita a um antigo salieneiro. A primeira entrevista foi feita em 1994 ao salineiro Anibal Figueiredo.Foi esta entrevista que me fez pesquisar sobre a luta destes salineiros

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