Trabalho de investigação jornalística de Carlos Soares
O jornal O Século de 1957 publicou uma notícia sobre a greve dos salineiros. Refere-se às varinas da seca do bacalhau que eram transportadas em camionetas pelos patrões das marinhas, dos locais onde viviam até ao local dos carregos de sal, para fazer face à greve dos salineiros.
Esta será, provavelmente, a primeira referência de mulheres a trabalharem nas marinhas em Alcochete. Nesse período da greve, chegaram a ganhar 50$00 por dia de trabalho, mais 20$00 do que os homens, tamanho era o desespero e a teimosia dos patrões das marinhas, que não queriam atender às reivindicações dos salineiros.
O recrutamento de mulheres em 1957 para trabalharem nas marinhas foi, sem dúvida, pontual mas deixou marcas que tiveram continuidade. Como o trabalho nas marinhas era sazonal, as mulheres que trabalhavam no campo, durante o Inverno, eram contratadas pelos patrões das marinhas, no Verão, já não como último recurso, mas como mão-de-obra permanente. A greve de 1957 em Alcochete marca assim o período em que as mulheres começaram a trabalhar numa actividade exclusiva de homens.
Não se consegue ainda precisar uma data, mas talvez no final dos anos 60 começou a ser habitual a contratação de mulheres das freguesias de Alcochete, Atalaia, Samouco, S. Francisco e outras localidades, para trabalharem com regularidade nas marinhas. O motivo deveu-se essencialmente à escassez de mão-de-obra masculina e à sua dispersão por outras indústrias, que surgiram entretanto em Alcochete.
Do que temos certeza, é que em 1976 trabalhavam 12 mulheres na Marinha do Canto e que, a par dos homens, faziam o trabalho que normalmente era deles: preparavam e limpavam os talhos, tiravam a lama das barachas para os montes, rapavam o sal e carregavam-no para as serras, ou seja, montes de sal. Nos carregos do sal já não utilizavam as canastras de 50 ou 60 litros, mas carrinhos que facilitavam o transporte do sal.
O moio já não era contado a cantar como faziam os salineiros nem correspondia a 16 canastras, mas a 10 carrinhos que correspondiam agora a 20 canastras, transportados para o tapete e descarregados pelos homens, na serra. Enquanto os homens abandonavam progressivamente o trabalho das salinas para enveredar por outras indústrias emergentes em Alcochete, as mulheres iam ocupando o seu lugar nas marinhas e a ter um papel importante na economia familiar.
Artigo de Carlos Soares para o Jornal de Alcochete, em 2008
Nota: Quando esta entrevista foi feita o novo acordo ortográfico ainda não tinha sido aprovado.
Todas as fotografias foram amavelmente cedidas pelo Museu Municipal de Alcochete